Fapesp, GSK e Einstein criam centro de pesquisa em imuno-oncologia

Fapesp e a farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) selecionaram um projeto para a constituição de um centro de pesquisa dedicado à imuno-oncologia no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Esse campo recente da ciência tem como objetivo ativar a resposta imune dos próprios pacientes para combater tumores.

Centro para Pesquisa em Imuno-Oncologia (CRIO) integra o programa Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) da Fapesp, que viabiliza parcerias entre a iniciativa privada e o setor acadêmico visando produzir e disseminar pesquisa de nível mundial, com a geração de alto impacto econômico e social por meio da inovação.

“As imunoterapias têm sido uma nova esperança para muitas pessoas, mas elas ainda apresentam pelo menos dois problemas. Dependendo do tumor, entre 12% e 60% da população não responde ou tem uma baixa resposta ao tratamento. Outra questão são os efeitos colaterais. Ainda que sejam, em média, menos frequentes do que na quimio e radioterapias, uma parte dos pacientes pode ter reações severas, que podem levar à suspensão do tratamento”, explica Kenneth John Gollob, coordenador do novo centro e pesquisador do Einstein.

Desde maio de 2021, Gollob coordena uma pesquisa apoiada pela Fapesp e focada justamente em identificar mecanismos imunes responsáveis pela falha terapêutica ou desenvolvimento de eventos adversos em pacientes com câncer tratados com os chamados inibidores de checkpoints imunológicos.

Agora, com o novo projeto aprovado em chamada conjunta da GSK e da Fapesp, o pesquisador amplia o escopo da investigação, realizada em colaboração com grupos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e do A.C. Camargo Cancer Center.

Novos alvos

O CRIO vai implementar um programa de pesquisa multidisciplinar para descoberta e validação de alvos terapêuticos focado principalmente em tumores refratários às imunoterapias, como colorretal, de pulmão e de cavidade oral.

“Encontrar novos alvos para imunoterapias implica custos muito altos. A estabilidade de financiamento, que será de R$ 18 milhões por cinco anos, com possibilidade de renovação, permite que nos aprofundemos bastante nesse tipo de pesquisa”, conta.

Para cada vez que um novo alvo for descoberto, o centro terá à disposição uma plataforma de transferência de tecnologia para a indústria, que vai promover os candidatos mais promissores, sejam eles compostos químicos ou anticorpos que atuem para bloquear ou promover ações do organismo que combatam tumores.

Caso um novo fármaco seja patenteado, a propriedade intelectual é dos pesquisadores, com a GSK tendo direito ao primeiro licenciamento. “Além de toda a infraestrutura de laboratório, administrativa e contratação de funcionários, o Einstein oferece suporte a eventuais spin-offs que possam surgir desse centro para, por exemplo, levar um novo medicamento ao mercado”, diz Gollob.

O centro contará ainda com um programa educacional liderado por especialistas em educação e comunicação, focado não apenas em estudantes de graduação e pós-graduação, como também de ensino médio.

Focos iniciais

Os tumores colorretal, de pulmão e de cavidade oral serão os focos iniciais do CRIO pelo fato de serem justamente alguns dos que não respondem tão bem às imunoterapias existentes ou que ainda têm espaço para avanços.

“O de pulmão, por exemplo, só é tratado com imunoterapia quando está na fase quatro. Futuramente, queremos estudar a possibilidade de usar esse tipo de tratamento ainda nas fases iniciais”, afirma o pesquisador.

A equipe multidisciplinar, que envolve médicos oncologistas, patologistas, cirurgiões oncológicos e outros especialistas tanto do Einstein como da USP de Ribeirão Preto e do A.C. Camargo, vai recolher amostras de sangue e de tecidos de diferentes tumores de voluntários em tratamento. O objetivo é estudar mecanismos da doença, marcadores biológicos e outros processos ocorridos durante o quadro de câncer.

“Se conseguirmos identificar marcadores que sinalizem quais pacientes têm mais chances de responder melhor ou pior ao tratamento, poderemos optar pelas terapias mais adequadas e poupar recursos, uma vez que as imunoterapias ainda são bastante dispendiosas”, diz.

O CRIO terá ainda colaborações com pesquisadores de outras unidades financiadas pela Fapesp, como o Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) sediado na FMRP-USP, e o Centro de Excelência para Descoberta de Alvos Moleculares (CENTD), um CPE cofinanciado pela GSK com sede no Instituto Butantan.

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