São Paulo, 05 de novembro de 2025 | Carolina Frandsen
O Centro de Pesquisa em Imuno-Oncologia (CRIO) do Einstein Hospital Israelita está descobrindo novas pistas sobre como o sistema imunológico influencia a evolução do câncer colorretal. Apresentado nesta segunda-feira (3), em seminário do programa Trust in Science realizado pela farmacêutica GSK na Filadélfia, nos Estados Unidos, o estudo intitulado “Preliminary multi-omics profiling of colorectal cancer patient cohorts” trouxe resultados preliminares que mostram assinaturas imunes distintas associadas à resposta ao tratamento e à recorrência tumoral.

A pesquisa, conduzida pelo Dr. João Figueira Scarini, analisa dados de duas coortes complementares de pacientes com câncer colorretal em estágios III e IV — uma retrospectiva e outra prospectiva — integrando análises genéticas, celulares e funcionais em uma abordagem inédita na América Latina.
Um dos principais focos do estudo é o microambiente tumoral (TME), a região que envolve o tumor, e sua interação com o sangue periférico. Combinando técnicas de sequenciamento genético, imunofluorescência e análise de proteínas, os pesquisadores buscam entender como essas interações afetam o sucesso do tratamento e a chance de retorno da doença.

Duas coortes, uma missão: entender a resposta ao tratamento
Na coorte retrospectiva, foram estudadas amostras arquivadas de pacientes já tratados, permitindo reconstituir a história molecular dos tumores. Um dos achados foi uma correlação inversa entre a carga mutacional tumoral (TMB) e a heterogeneidade intratumoral (MATH). Em outras palavras: para o câncer colorretal quanto mais heterogêneo o tumor, maior a sua resistência ao tratamento e pior o prognóstico para o paciente.
Já na coorte prospectiva, que segue em andamento, os pacientes são acompanhados ao longo do tratamento com tecnologias avançadas como sequenciamento de RNA de célula única (scRNA-seq), análise de receptores de linfócitos (BCR e TCR), citometria de fluxo espectral e detecção multiplexada de citocinas por ensaio MILLIPLEX®. Essas ferramentas permitem observar em tempo real como o sistema imune reage ao tumor e como a diversidade clonal e o equilíbrio entre células imunes influenciam a resposta terapêutica.
ctDNA: vigilância molecular da evolução tumoral
Os pesquisadores planejam incorporar também análises de DNA tumoral circulante (ctDNA) — fragmentos de DNA liberados por células cancerosas na corrente sanguínea —, que podem funcionar como uma “biópsia líquida” capaz de detectar mutações e acompanhar a evolução do tumor de maneira não invasiva. A integração dos perfis de ctDNA com os dados do tecido tumoral e do sangue deve permitir monitorar a dinâmica tumoral ao longo do tratamento e identificar precocemente sinais de resistência ou recaída.
Perfis que ajudam a prever recorrência
Os primeiros resultados sugerem a existência de dois perfis imunológicos contrastantes. Pacientes que permaneceram livres da doença após o tratamento (DF, de disease-free) mostraram uma resposta imune mais coordenada, e assinaturas distintas no microambiente tumoral, com vários genes suprimidos em células imunes. Já os pacientes com recorrência (DR, de disease-relapsed) apresentaram uma resposta mais desorganizada, com maior diversidade clonal e produção simultânea de citocinas inflamatórias e anti-inflamatórias, indicando possível desequilíbrio ou exaustão imunológica.
Esses achados reforçam a ideia de que a eficácia do sistema imune em combater o câncer depende não apenas de sua atividade, mas também da qualidade e do foco dessa resposta. O estudo indica que uma resposta direcionada a alvos tumorais pode estar associada a melhores prognósticos.
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Caminhos para a imunoterapia personalizada e novos biomarcadores
Segundo os autores, a combinação de dados genômicos, transcriptômicos e proteômicos promete lançar novas luzes sobre a coevolução entre tumor e sistema imune ao longo do tratamento. A expectativa é que esses dados ajudem no desenvolvimento de biomarcadores para prever resposta e resistência, além de orientar estratégias de imunoterapia mais personalizadas.
Entre as inovações previstas para os próximos passos estão a integração de análises multiômicas (WES, scRNA-seq, proteômica e ctDNA), o uso de modelos computacionais e aprendizado de máquina para correlacionar perfis moleculares com desfechos clínicos, e a criação de um repositório de dados abertos que poderá beneficiar outras equipes de pesquisa em oncologia translacional.