Contribuições do periódico einstein (São Paulo) para a Ciência Aberta em Saúde

Há mais de duas décadas a revista atua na promoção do acesso aberto a pesquisas rigorosamente revisadas em Medicina e áreas afins da saúde.

O

que era pra ser um trabalho temporário para Edna Terezinha Rother, se tornou um compromisso de vida. Formada em Biblioteconomia e com extensa atuação em instituições de saúde, Rother havia sido inicialmente convidada para reorganizar a biblioteca da Faculdade de Enfermagem do Einstein, mas em pouco tempo se viu corresponsável pela criação de einstein (São Paulo), periódico de acesso aberto do hospital com foco em Medicina e áreas afins da saúde. 

imagem da bibliotecária do Einstein Edna Rother, uma das fundadoras da revista einstein São Paulo
Edna Rother, editora-técnica do periódico. Foto: acervo pessoal

O propósito inicial da revista era atender tanto a comunidade científica com artigos especializados quanto o público em geral, por meio de conteúdos educacionais. No entanto, após sua indexação na base de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a revista seguiu com foco em artigos de revisão, relatos de casos e outros formatos científicos. Hoje, com 21 anos de atividade, o periódico também está atrelado a bases como PubMed/MEDLINE, Web of Science, SciELO e outras plataformas onde se localizam as revistas científicas e seus respectivos artigos. 

Mas a indexação nestas bases não é simples. Muitas possuem processos de seleção criteriosos para garantir a confiabilidade e credibilidade nas publicações. Para tanto, artigos publicados na einstein (São Paulo) são cuidadosamente selecionados. “A equipe é constituída de colaboradores Einstein que têm grande dedicação na revisão, preparo e verificação de plágio (…) Também presta apoio ao editor e ao autor para resolver questões de submissão, de necessidade de publicação mais rápida (fast track) de estudos com dados que precisam ser publicados com mais urgência”, comenta Rother em entrevista ao podcast Imuno Agentes, que hoje é editora-técnica da revista e coordena o sistema de bibliotecas do Einstein. 

Kenneth Gollob, editor-chefe do periódico e diretor do Centro de Pesquisa em Imuno-Oncologia (CRIO), possui diversas responsabilidades, desde comunicar os objetivos do jornal à comunidade científica até a seleção criteriosa de artigos para publicação. “Divulgo os princípios da revista por meio de apresentações, interações online e na escolha cuidadosa de editores associados competentes. Também verifico a qualidade científica dos artigos, desde a revisão inicial até a decisão final sobre a publicação, compartilhando feedback dos revisores e editores com os autores. Na avaliação dos artigos, considero a congruência do título e resumo com o escopo da revista, a qualidade geral do texto em termos de metodologia e clareza do inglês, além das contribuições dos artigos à revista destacadas nas cartas de motivação (cover letters)”, compartilha o editor. 

Recentemente, einstein (São Paulo) recebeu seu primeiro fator de impacto (FI) de 1,4 pelo Journal Citation Report, publicação anual do Clarivate que avalia e compara periódicos acadêmicos e estabelece o FI às revistas indexadas na Web of Science. 

Uma ciência feita sem barreiras 

Kenneth Gollob, editor-chefe do periódico einstein (São Paulo) e diretor do Centro de Pesquisa em Imuno-oncologia (CRIO)
Kenneth Gollob, editor-chefe do periódico. Imagem: acervo pessoal

O movimento pelo acesso aberto (open access) surge como uma resposta às práticas tradicionais das grandes editoras, visando a disponibilização online e gratuita de artigos, livros, teses e dados. Essas publicações são distribuídas sem barreiras de acesso ou de uso, permitindo que qualquer pessoa possa ler, baixar, imprimir, distribuir e reutilizar, desde que respeitem as licenças atribuídas (como a Creative Commons) e regras de publicação ao acesso aberto. Dentre essas normas de disseminação, as mais utilizadas são: via Verde, artigo publicado em revista restrita, mas disponível em um repositório institucional sem restrições após um certo tempo; via Dourada, todo o conteúdo da revista é liberado e muitas vezes nem se cobra taxa de publicação, e modelo Híbrido, a revista cobra assinatura, mas oferece opções de artigos sem restrições com custo superior. 

Embora a ideia de fornecer acesso online gratuito à literatura científica date os meados da década de 70, com a prática de auto arquivamento de pesquisas em servidores pessoais anônimos, foi apenas em 2002 que o termo foi formalmente proposto pela Iniciativa de Acesso Aberto de Budapeste em um documento aberto 

No Brasil, essa prática é refletida em exemplos como a SciELO (Scientific Electronic Library Online), plataforma online criada em 1997 como uma rede cooperativa de revistas científicas para aumentar a visibilidade, o acesso e a qualidade da pesquisa científica da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal. Outra iniciativa é o Plano S, lançado em setembro de 2018 pela cOAlition S, consórcio de agências financiadoras de pesquisa da Europa cujo objetivo é promover o acesso aberto à pesquisa financiada com recursos públicos. 

Tabela em que exibe números de publicação da revista einstein São Paulo em 2022
Publicações einstein (São Paulo) em 2022. Imagem: einstein (São Paulo)

Na mesma direção, einstein (São Paulo) busca disseminar o conhecimento científico com publicações em inglês seguindo a via Dourada de disseminação. Em 2022 a revista publicou 148 trabalhos e 94 em 2023, todos em acesso aberto e em sua maioria voltados à Medicina Clínica. A revista é mantida pelo próprio Einstein, incluindo as despesas editoriais, de produção e manutenção de sua plataforma online. O instituto recebe recursos de fontes como doações, subsídios, contratos de pesquisa e gera receita por meio de serviços de saúde para apoiar atividades de pesquisa e educação. 

Um círculo vicioso a ser superado 

Embora o movimento pela ciência aberta traga a democratização do conhecimento e progresso científico, muitos cientistas ainda optam pela publicação de suas pesquisas em revistas de apelo comercial, por muitas usufruírem de maior FI. “A discussão do movimento open access vai muito além de seus princípios-base. Cientistas, agências de fomento e instituições de ensino e pesquisa precisam rever suas práticas no momento de avaliar o desempenho dos pesquisadores, que geralmente ocorrem somente com base nas revistas em que seus trabalhos foram publicados e não propriamente na qualidade dos conteúdos”, comenta Gollob. 

No mesmo sentido, Rother argumenta sobre a necessidade de maior valorização das revistas de acesso aberto como boas plataformas para a visibilidade das produções científicas: “É hora de pensar nessas revistas que têm qualidade editorial e rigor para publicar e que estão aí disponíveis, com acesso aberto. Muitas delas ainda não têm grande impacto porque os pesquisadores não enxergaram que este é o caminho onde eles devem publicar (…) Não é o veículo que vai dar o valor e a citação a eles [os pesquisadores], mas sim a qualidade do conteúdo. Se publicarem numa revista que está em todas as bases internacionais e que oferece acesso aberto, é um caminho para serem reconhecidos também, né? Então, é o olhar também do pesquisador que precisa mudar e as instituições também têm que pensar nisso”.  

Nesse contexto, o FI não deve ser a única métrica considerada ao escolher uma revista para publicação científica. Os pesquisadores devem avaliar diversos parâmetros, incluindo o altmetrics, que mensura o impacto das publicações para além do ambiente acadêmico. Essa métrica abrange menções em veículos de notícias, mídias sociais e blogs, proporcionando uma análise mais abrangente e rápida. Além disso, o altmetrics fornece dados mais precisos sobre os públicos alcançados pela publicação.

O pesquisador investe tempo e recursos para realizar a pesquisa e é injusto que tenha custos adicionais para publicar seu trabalho. As revistas de acesso aberto podem ser ótimos caminhos para disseminação deste conhecimento. (Edna Rother)

Gollob também reforça a importância dos periódicos de acesso aberto em saúde para acelerar avanços em tratamentos, como a imunoterapia. “Eliminar barreiras financeiras permite que pesquisadores globalmente acessem e apliquem esses conhecimentos em pesquisas e estudos clínicos. Na oncologia imunológica, a disponibilidade irrestrita de informações é crucial para desenvolver novos testes, compreender mecanismos de resposta e identificar terapias eficazes. O acesso aberto, sem custos para os autores, promove a disseminação abrangente dessas informações, beneficiando a comunidade científica e, consequentemente, os pacientes”, destaca. 

É imperativo que editoras sigam os exemplos já estabelecidos e, comprometam-se, cada vez mais, com a disponibilização acessível de seus artigos. O periódico einstein (São Paulo), juntamente com outras iniciativas que promovem a livre circulação do conhecimento científico, são exemplos que evidenciam a importância da democratização do conhecimento científico, para o rápido aprimoramento de tratamentos, técnicas e medicamentos. 

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Que saber mais?

🎧 Ouça a entrevista completa no Imuno Agentes Podcast:

 

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